domingo, 8 de abril de 2007

o luto já passou. não foi um regresso, porque a cidade desapareceu. porque das ruínas subiram novas muralhas e um novo castelo. porque os reflexos ficaram enterrados. mas o sol brilha e aquece-me. nem passado, nem presente, e espero que nem futuro. mas uma espécie de porto seguro. um lugar onde existem pessoas que. eu que nunca fui de lá, nunca poderei voltar. passou tanto tempo. o tempo suficiente para deixar de sentir medo. para deixar de sentir pena ou saudade. é um espaço novo, ainda que o traçado seja ligeiramente reconhecível. o aconchego de ninguém me querer tirar, exigir, viver de mim. de receber genuinamente. de partilhar só por estar. o verde das estradas que percorri em viagens repetidas anos e anos. o brilho do sol reflectido nas águas. sempre que me sentir presa numa teia sem encontrar a razão, posso desenredar o fio no sentido inverso e reencontrarei o ponto de partida. onde estou eu. sempre que me sentir sufocar, sei que existe uma fonte numa espécie de espaço paralelo. detrás das paredes, dos caminhos, das pedras. não podem tirar-me o que sou. haverá sempre sol e luz e calor e um espaço aberto para respirar.

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