segunda-feira, 30 de abril de 2007

homesick

apart from there i am an outcast

domingo, 29 de abril de 2007

mailbox



call me from the future, so that when you find me i won't smoothly disappear.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

tira-linhas

lê-me


nos espaços que deixo em branco.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

de cadência

oiço os passos a correr devagar sobre as vigas do chão. acendo-me no espaço. sorvo-te na escuridão.

Dia de cravos


Tinha um cravo no meu balcão:
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lhe ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
- mãe, dou-lhe ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir

- mãe, dou-lho ou não?



* Eugénio de Andrade

Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

*Sophia de Mello Breyner Andresen


(...) A seguir pôs-se a falar do Primeiro de Maio. Aquele. O que teve lugar apenas uma semana depois do 25 de Abril. Aquele em que a cidade toda enlouqueceu e ainda estou para perceber como é que no fim não caímos ao chão para nunca mais nos levantarmos, fulminados por uma descarga de energia colectiva a que não é suposto os seres humanos sobreviverem. (...) Lembro-me de estar parada no passeio a ver desfilar a multidão, disse a tua mãe. E, de repente, pensei que estava a assistir ao Domingo de Ramos. (...) Pensei, disse a tua mãe. Pensei que estávamos a coroar um rei que íamos crucificar poucos dias mais tarde.

*Clara Pinto Correia - Domingo de Ramos

persona

eu ponho a máscara. pinto a cara. visto o fato. dispo o véu. reflicto-te, reflicto-me. sou aquilo que queres ter. sou o que não podes. deito-me. repito-te ao ouvido as palavras que não ousas. segredo-te. espraio-me sobre o chão. pairo no ar rente ao tecto. tiro a máscara. ponho a cabeleira. deito fora as plumas e as pérolas. lambo as ostras. parto os vidros, corto a mão. sou aquilo que queres ver. sou o que não sabes. sento-me no teu colo. pego-te ao colo. baloiço-me. estendo os braços, dobro as pernas. caio. risco a cara. escondo o corpo. mostro o sangue. bebo-te a carne. reviro-me. revolvo os panos. rasgo as cadeiras. sente-me. peso-te na pele. escorres-me nos braços, tiro-te dos dedos. contemplo-te de longe. desdenho-me. limpo a cara. dispo o fato, visto o véu. repouso-me. ouves respirar? essa sou eu.

perspectivas


"From this time, unchained
We're all looking at a different picture
Thru this new frame of mind
A thousand flowers could bloom
Move over, and give us some room"



*Portishead . Glory Box

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Revivalismo



(agradeço à Lily que aqui há uns tempos me trouxe à lembrança a banda sonora de uma fatiazita da minha vida.)

domingo, 22 de abril de 2007

"If music be the food of love, play on..."

*William Shakespeare, Twelfth Night (I, i,1-3)

*Ray Caesar

sábado, 21 de abril de 2007

Gosto

de sábados preguiçosos e cabelos que esvoaçam.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

"it's better to burn out

than to fade away..."



photo by M. Galrinho

the indigo belly dance



Quem diria que a Indigo Family tinha estas irmãzinhas!...


mais em the indigo belly dance

quinta-feira, 19 de abril de 2007

com passo


de espera.

nunca poderá ser dito. grande de mais a paixão para ser fechada em palavras.

terça-feira, 17 de abril de 2007

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.


*Sophia de Mello Breyner Andresen

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.


*Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 15 de abril de 2007

I feel like

You.

[Apeteces-me.]

sábado, 14 de abril de 2007




*CocoRosie, Good Friday

[nota: este post teve o patrocínio da marca Kenzo...]

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Beijinho bom


'diz que é Dia do Beijo, e essas coisas.




"Um beijo é um segredo que se diz na boca
e não no ouvido."

*JEAN ROSTAND
*imagem daqui

quinta-feira, 12 de abril de 2007

magoei. fiz doer. desculpa. as histórias nem sempre acabam bem.

esponja

absorvo, absorvo, absorvo.
saturo, saturo, saturo.
qualquer dia vai chover o mês inteiro.

terça-feira, 10 de abril de 2007


Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda ver que lindo presente
A aurora trouxe para te prendar
Uma coroa de brilhantes para iluminar
O teu cabelo revolto como o mar
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora
à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Porque terras de sonho andaste
Que Mundo te recebeu
Que monstro te meteu medo
Que anjo te protegeu
Quem foi o menino
que o teu coração prendeu ?
Acorda, menina linda
Anda brincar
Que o Sol está lá fora
à espera de te ouvir cantar
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer
Anda a ver o gato vadio
À caça do pássaro cantor
Vem respirar o perfume
Das amendoeiras em flor
Salta da cama
Anda viver, meu amor
Acorda, menina linda
Vem oferecer
O teu sorriso ao dia
Que acabou de nascer



*Jorge Palma
*Photo by Yyellowbird

segunda-feira, 9 de abril de 2007

efeméride

hoje é um dia importante.

hoje celebrei contigo, preparei contigo, festejei contigo. e chorei o dia inteiro quando deixei de o poder fazer. hoje será sempre um dia especial. dia de me lembrar de ti, onde quer que estejamos.
hoje comecei uma vida nova. talvez. o passo que sempre quis dar para mudar de rumo. era para ter sido na semana passada, mas a data foi adiada para hoje. só podia ser. hoje é um dia importante, estejas onde estiveres, esteja eu onde estiver. hoje celebras o teu aniversário e eu saúdo-te silenciosamente. já não lamento que seja à distância. hoje sei que cada um dos nossos caminhos seguiu pela estrada mais certa. hoje tive a primeira aula do curso que sempre sonhei fazer. a mudança que desejei, o corte com tudo o que ficou para trás. hoje.
porque quase tudo na vida é efémero,
mas há certos dias que se tornam
efemérides.

domingo, 8 de abril de 2007

o luto já passou. não foi um regresso, porque a cidade desapareceu. porque das ruínas subiram novas muralhas e um novo castelo. porque os reflexos ficaram enterrados. mas o sol brilha e aquece-me. nem passado, nem presente, e espero que nem futuro. mas uma espécie de porto seguro. um lugar onde existem pessoas que. eu que nunca fui de lá, nunca poderei voltar. passou tanto tempo. o tempo suficiente para deixar de sentir medo. para deixar de sentir pena ou saudade. é um espaço novo, ainda que o traçado seja ligeiramente reconhecível. o aconchego de ninguém me querer tirar, exigir, viver de mim. de receber genuinamente. de partilhar só por estar. o verde das estradas que percorri em viagens repetidas anos e anos. o brilho do sol reflectido nas águas. sempre que me sentir presa numa teia sem encontrar a razão, posso desenredar o fio no sentido inverso e reencontrarei o ponto de partida. onde estou eu. sempre que me sentir sufocar, sei que existe uma fonte numa espécie de espaço paralelo. detrás das paredes, dos caminhos, das pedras. não podem tirar-me o que sou. haverá sempre sol e luz e calor e um espaço aberto para respirar.

sensitive dependency on initial conditions

nem de propósito, ontem deu na televisão The Butterfly Effect.

"The "Butterfly Effect" is the propensity of a system to be sensitive to initial conditions. Such systems over time become unpredictable, this idea gave rise to the notion of a butterfly flapping it's wings in one area of the world, causing a tornado or some such weather event to occur in another remote area of the world."

Does the flap of a butterfly’s wings in Brazil set off a tornado in Texas?*

"Oh, wake up. You know what chaos is. Simple deterministic dynamics leading to irregular, random-looking behavior. Butterfly effect. That stuff."

"Of course, I know that," Socrates said in irritation. "No, it was the idea of dynamic logic that was puzzling me. How can logic be dynamic?"

daqui

*theory postulated by Edward Lorenz

curto-circuito

numa terra qualquer, existe um autocarro. não tem paragens. as pessoas vão pela rua, fazem sinal e o autocarro pára para os passageiros subirem. quem entra cumprimenta quem está. não existem filas de lugares, apenas uma espécie de sala onde há quatro lugares frente a frente e um pequeno espaço para as pessoas irem em pé. e um lugar para encaixar uma cadeira de rodas. tudo o que faz falta, portanto. quem quer sair toca a campaínha e o autocarro pára. despede-se de quem fica. assim, tão simples. para quê complicar? cada pedaço da realidade circunscreve-se num pequeno espaço, e dentro das suas linhas tudo funciona perfeitamente, num circuito definido. que pode ser interrompido e retomado em qualquer ponto do percurso.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

minutos de silêncio


enquanto outros adoram o homem que sobe na cruz,
eu parto em viagem ao meu passado e exorcizo fantasmas.
pode ser que ressuscite antes do terceiro dia.


*photo by M. Galrinho

quinta-feira, 5 de abril de 2007

e x h a u s t e d

terça-feira, 3 de abril de 2007

cry me a river

a tristeza e a alegria brotam da mesma fonte e correm para o mesmo mar.

e nada apazigua mais do que desabar a alma e o corpo.

ele vive...

agora que já menos se ouvem as muitas vozes que se acenderam acerca da eleição do português que representa o nome de o ser, opino. salazar vive. em muitos rostos, em muitas vozes. as pessoas são chamadas ao gabinete do líder para serem pressionadas a deletar os colegas. duas a conversar são revoltosas que conspiram... ou são "esquisitas". quatro pessoas são "dispensadas" porque chegam um quarto de hora atrasadas porque saem-de-casa-andam-a-pé-paragem-de-autocarro-apanhar-o-barco-andam-a-pé-apanham-o-metro. e o barco atrasa-se."põem o despertador mais cedo, já chegam a horas". para servirem de exemplo, para que todos os outros não ousem. quem sai na hora de saída é interrogado "e a entrar, também foste assim pontual?". pessoas refundidas num armazem nas traseiras de um prédio. com fungos, com baratas, com formigas, que a natureza é mãe e somos todos irmãos. aqueles que ousam almoçar são vaiados com o olhar. os que ousam almoçar na cozinha são interrompidos como se estivessem no seu posto de trabalho. porque a hora de almoço é um luxo burguês, não é um direito. salazar vive. pessoas trabalham porque têm filhos, têm rendas de casa, têm família a seu cargo, para a projecção da vedeta. o culto da personalidade. as pessoas são despedidas na hora da saída, "para não se revoltarem". avisadas no momento. independentemente de terem filhos que precisam que a mãe tenha emprego no dia seguinte. salazar vive. num qualquer escritório chique do centro da cidade. viram o seu sorriso forçado na foto que saiu no jornal? é que os homens maus não ficam bem na fotografia.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Sou uma tábua-rasa



*Photo by Ernestine Ruben

sou irmã de alguém,
filha de alguém, tia de alguém
sobrinha de alguém, prima de alguém
amiga de alguém,conhecida de alguém
colega de alguém,chefe de alguém
empregada de alguém, vizinha de alguém,
afastada de alguém

fui neta de alguém,
aluna de alguém, professora de alguém
mão de alguém, perdição de alguém
amada de alguém

sou a voz de alguém,
sou o corpo de alguém,
sou a imagem de alguém,
sou o rosto de alguém,

não sei bem
quem.

*Photo by Peter van Strahlen