sexta-feira, 30 de março de 2007

As mulheres voam
como os anjos:
Com as suas asas feitas
de cristal de rocha da memória


Disponíveis
para voar
soltas...
Primeiro
lentamente: uma por uma
Depois,
iguais aos pássaros
fundas...
Nadando, juntas
Secreta a rasar o chão
a rasar a fenda da lua
no menstruo
por entre a fenda das pernas
Às vezes é o aço
que se prende na luz
A dobrarmos o espaço?

Bruxas:
pomos asas em vassouras de vento
E voamos


Como as asas lhe cresciam nas coxas
diziam dela: que era um anjo do mar
Rondo alto, postas em nudez de ombros e pernas
perseguindo, pelos espaços,
lunares da menstruação
e corpo desavindo
Não somos violência
mas o voo

quando nadamos
de costas pelo vento
até à foz do tempo
no oceano denso
da nossa própria voz
Sabemos distinguir
a dormir
os anjos das rosas voadoras
pelo tacto?
Somos os anjos do destino
com a alma
pelo avesso
do útero
Voamos a lua
menstruadas


Os homens gritam:
– são as bruxas
As mulheres pensam:
– são os anjos
As crianças dizem:
– são as fadas

Fadas?
filigrama cintilante
de asas volteando
no fundo da vagina
Nadamos?
De costas, no espaço deste século
Mudar o rumo
e as pernas mais ao fundo
portas por trás
dobradas pelos rins
Abrindo o ar
com o corpo num só golpe
Soltas, viando até chegar ao fim
Dizem-nos
que nos limitemos ao
espaço
Mas nós voamos
também
debaixo de água
Nós somos os anjos
deste tempo
Astronautas,
voando na memória
nas galáxias do

vento...

Temos um pacto
com aquilo que voa
- as aves
da poesia
– os anjos
do sexo
– o orgasmo
dos sonhos
Não há nada
que a nossa voz não
abra
Nós somos as bruxas
da palavra


*poema de Maria Teresa Horta

*imagens de Sylvia Ji , Zöe Regöczy & Joshua Petker

quinta-feira, 29 de março de 2007

serviço nostalgia

Myspace Mp3 Player, MySpace MP3 Players, Flash MP3 Players


porque, entre outras afinidades, esta música liderava o top quando eu nasci!...


*Gloria Gaynour, versão dos Cake

quarta-feira, 28 de março de 2007

encontro as pessoas certas na hora errada.
ou sou eu a pessoa errada, à hora certa.

segunda-feira, 26 de março de 2007


my love is an old rose, fading slowly day by day.

domingo, 25 de março de 2007

empatia*

hoje estive a rever um filme que adoro.

Frida Kahlo





*de em + Gr. páthos, estado de alma


s. f.,
capacidade psicológica para se identificar com o eu de outro, conseguindo sentir o mesmo que este nas situações e circunstâncias por esse outro vivenciadas.

Única, exclusiva e especialmente para a A.!

(um sorrisinho, faxavor!!!!)



É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua


"good girls go to heaven, bad girls go everywhere" ;-)

sábado, 24 de março de 2007

... fui!!


"Celebração Shutdown Day
Não, não somos agarrados aos computadores. Não, não precisamos deles para sobreviver. Não, não nos levantamos a correr para ver os mails mesmo antes do pequeno-almoço. Não. Nós conseguimos ler as notícias sem ser on-line, conseguimos ir às compras sem ser no Ebay, somos capazes até de ainda escrever a caneta, se for preciso. Não somos dependentes da Internet, não achamos que a melhor revista do mundo se recebe por mail, conseguimos perfeitamente pesquisar sobre qualquer assunto sem usar o Google. Ok, estamos a mentir. Talvez sejamos um bocadinho viciados. Mas hoje não. Arranquem-nos os ratos da mão, desapareçam-nos com o teclado. É
Dia de Desligar. Tudo. Virar as costas à tecnologia e poupar um pouco de energia. Viver sem máquinas durante 24 horas. A ver se somos capazes. /Jane

ONDE
no mundo inteiro

QUANDO
vá, é só hoje

QUANTO
gratuito e saudável"



informação lecool lisboa


ora bolas... esta minha mania de ler as notícias depois delas passarem :-(

aka

desprezo imenso as pessoas que fazem publicidade a si próprias. por "defeito de ocupação", torço inevitavelmente o nariz sempre que vejo um texto a falar de alguém, do que alguém fez ou pensa fazer. por defeito "de ocupação", assumo que tudo aquilo que se vende é feito para se vender, é criado por encomenda para criar uma ilusão que incite ao consumo inconsciente, "sem questionar". quando alguém me diz que fulano tal escreveu um livro, a minha pergunta imediata é "quem é que lho terá escrito". claro que é um julgamento injusto, como todas as generalizações o são.
eu aprecio o espectáculo que o é frontal e deliberadamente, encanta-me todo o processo de criação e todo o mecanismo de bastidores. mas cada dia tenho menos paciência para o aparato cénico de uma propaganda que se dissimula e procura camuflar-se para se confundir com a realidade.
talvez por amor à arte, cada vez me enjoo mais com as figurinhas "é só juntar água".

um artista que o seja verdadeiramente, seja naquilo que for, dispensa qualquer texto de apresentação.
para mim, o artista que o é de facto é aquele cuja obra fala por si, de uma forma inquestionável e implagiável. é aquele que é a sua própria obra e imagem. na vida como na arte, quem sabe que tem valor sabe que não precisa de dizer nada, pois aquilo que faz grita de uma forma que ninguém consegue ignorar, por muito que queira.

scissors

*by Madoz


hoje vou cortar o cabelo. não, não vou à cabeleireira. vou cortar o cabelo. tenho "um trauma" de pequena porque os meus pais eram de opinião que as crianças deviam ter sempre o cabelo curto para crescer forte saudável. eu era de opinião que não queriam ter trabalho a desembaraçar-nos o cabelo... ok, lá forte e saudável é ele, mas eu tinha um desgosto imenso quando via as outras meninas com cabelos a baloiçar ao vento, enquanto os meus projectos de caracol nem se moviam. desde então sempre foi para mim uma tortura cortar o cabelo, convicta de que todas as cabeleireiras cortam como se não houvesse amanhã. assim, há uns tempos adquiri triunfantemente a minha primeira tesoura "de pro". e descobri o mundo maravilhoso das tesouradas. já fiz franja longa e franja curta, escadeei e acertei, pintei de azul, de vermelho, pus madeixas cor-de-rosa. all by myself. é um exercício de criatividade e descontracção. aconselho vivamente.

quinta-feira, 22 de março de 2007

i could dance


till the end


of time


the shape of my heart

ontem logo ao sair de casa encontrei no caminho uma carta igualzinha a esta:

as cartas fazem parte da minha vida há muitos anos. quando por acaso encontro alguma na rua penso sempre que são mensagens que se espelham na minha frente para não me passarem despercebidas. o Ás de Copas é uma das minhas cartas preferidas, representa o início e o triunfo do amor.

Para começo da Primavera, deve ser um bom prenúncio.

"He deals the cards to find the answer
the sacred geometry of chance
The hidden law of probable outcome
The numbers lead a dance"


*Shape of my heart - Sting

terça-feira, 20 de março de 2007

dizem que chega amanhã



o tempo dos novos começos

*Photo by Diyosa

segunda-feira, 19 de março de 2007

Pai

chegar cansada e repousar no teu abraço.

domingo, 18 de março de 2007

ohmeudEus, faz com que o dia de amanhã passe depressa

e, se não for pedir muito, que eu não dê por ele.

a sério. não há justiça no mundo. tanta aspirante a assessora à volta dela e tinha de me sair a mim, que só quero paz na minha vidinha, a sorte grande. sem terminação.

"- segunda-feira vou à rádio no seixal e tu vais comigo."

"- eu? no seixal???..."

"- sim, vamos as duas."

(medo, muito medo.)

"- e como é que eu vou?"

"- vens comigo, eu venho cá buscar-te."

(a tragédia, o horror.)

[...]

"- mas não chegou a ver a pasta..."

"- não te preocupes, m.! nós temos de lá estar às 11, por isso eu às 10 venho ter contigo e temos tempo!"

(ok. rádio no seixal às 11, e às 10 horas vem ter comigo ao centro de lisboa... bem, da última vez que fomos para um estúdio, tinha de estar às 10 ao pé de cascais. às 11 horas ligou-me, estava perdida em sintra... "ia a pensar em deus e distraí-me nas saídas"... (ah, pronto, se ia com deus...).

e nem vou pensar na fama dela ao volante... diz quem já experimentou que temeu pela vida, a ver o ponteirinho da velocidade do z3 sempre bem no alto (glup!, agora percebi porque é que ela não tem pressa...)

e para além de passar todo o santo dia a ouvir aquelas frases tãaao lindas, de que é que vamos falar no caminho? e ao almoço? já me fez quinhentas perguntas sobre o meu piercing e sobre a gata, começa a faltar assunto da treta... acho que a minha vida não se enquadra lá muito bem nos padrões católicos! se eu lhe contasse benzia-se o resto do dia... e será que vou ter de ouvir aqueles cdzinhos de cânticos no caminho???

ai!... se eu prometer que na próxima vida vou ser boazinha e fazer aquelas coisas todas certinhas que as pessoas certinhas fazem será que me deixam sossegada?

*Photo by Mcneney

pele

a minha pele hiper-cicatriza de forma misteriosa. ontem percebi que cada uma das estranhas cicatrizes que se foram formando ao longo do meu crescimento estão directamente associadas a uma ferida interior que continuou a cicatrizar sobrepondo camada após camada, como um mecanismo inato de protecção. a primeira foi a mais comprida, a que ficou atrás das costas e acabou por se tornar ligeira, embora se tenha esticado ao longo dos anos. a segunda é aquela que teve a forma de uma mariposa e acabou por se assemelhar a um coração de sangue, a que ainda dói de vez em quando, a que dificilmente passa despercebida um dia que seja. a que escondo para não ferir ninguém. e agora tenho uma pequenina, dura, redondinha e precisa como tu foste, certeira. acariciava-a ligeiramente e pensava "não consigo tirar-te da cabeça".

domingo de paixão

Apaga-me os olhos;

ainda posso ver-te


Tapa-me os ouvidos;

ainda posso ouvir-te


E sem pés posso ainda ir para ti


E sem boca posso ainda invocar-te


Quebra-me os braços

e posso apertar-te

Com o coração

como com a mão


Tranca-me o coração

e o cérebro latejará


E se me deitares fogo ao cérebro


Hei-de continuar a trazer-te no sangue


Rainer Maria Rilke

sábado, 17 de março de 2007

rosa indigo

quando fixamos uma determinada cor, a retina fica tão cansada dela que, ao desviarmos o olhar, instantaneamente busca a sua complementar, para descansar.


de tanto procurar uma imagem os meus olhos ficaram saturados,
preciso de encontrar a paz no seu oposto.

sexta-feira, 16 de março de 2007

e porque hoje é sexta-feira

"

Come and complete me, stay here with me
This is all true, it's water I drink
I want you to show me how mad is your love
Come and attack me it's not gonna hurt
Fight me, deny me if I fear when you're close
Let's make love and listen to death from above...


CSS

quinta-feira, 15 de março de 2007

Dias úteis (II)

está toda a gente cheia de pressa e ansiedade. pressa de chegar sei lá onde, ansiedade de ter sei lá o quê. toda a gente cheia de trabalho e a dar trabalho. pela porta entreaberta entra uma brisa fresca frutada e eu, sem pressa e sem ansiedade, levanto-me e vou à janela.

o sol enche-me a cara e faz-me piscar os olhos,

e vem-me à cabeça Sebastião da Gama (!!!):

“Tens muito que fazer? Não. Tenho muito que amar.”

cenas

um dos meus rituais sagrados é "acordar". ponho o despertador para as 7, para me levantar quase às 8. saio do sono devagarinho com a música da rádio e, quando estou suficientemente desperta para me conseguir arrastar da cama, levanto-me e faço café. manhã sem cheiro a café fresco não é manhã. de caneca na mão vou até à varanda e acendo um cigarro. e é aí que a-c-o-r-d-o saboreando cada bocadinho enquanto a luz desperta as árvores e os telhados da lisboa da minha varanda.
e hoje, de repente, vejo no parapeito da janela da frente um casalinho de pombos a arrulhar, repiniquiu, repiniquiu. e beijavam-se e rebeijavam-se. é a primavera, a primavera. acordar com um quadro tão espontâneo mesmo à frente enternece o coração mais empedernido. eis que reparo que não sou a única na contemplação embevecida do meloso casal. aninhada aos meus pés, kitty simone também fitava fixamente os pombinhos. noto nos seus olhos um brilhozinho especial. é uma sentimental, esta gata ...